Otimização de reatores quimicos para pesquisa em formulação de combustíveis
Introdução
Na formulação de combustíveis, é necessária a utilização de vários experimentos fundamentais de cinética química para as devidas pesquisas. Estes experimentos fundamentais são compostos usualmente por reatores químicos, nos quais pode ser isolado o processo cinético para, de esta forma observar e entender o que acontece no processo cinético do combustível que está sendo analisado, em função da pressão, da temperatura e da estequiometria.
Reator de mistura por jatos (Jet Stirred Reactor – JSR)
O reator de mistura por jatos é uma evolução do tradicionalmente conhecido reator de mistura perfeita (Perfectly Stirred Reactor – PSR) ou simplesmente reator de mistura homogênea. Este tipo de reatores tem sido utilizado amplamente na pesquisa e desenvolvimento de combustíveis para diversas aplicações e o principio de conceição e operação baseia-se na assumpção de mistura “instantânea e homogênea” uma vez entram os reagentes no reator.
Estando dentro do reator os reagentes, iniciasse o processo cinético, assumindo que não existem gradientes espaciais de espécies químicas (mistura homogênea espacial em cada passo de tempo) desta forma facilitando a metodologia de modelagem, assumindo modelos zero-dimensionais (dependentes do avanço no tempo para reatores fechados, ou do fluxo de massa constante para reatores abertos) usando programas computacionais e modelos cinéticos.
O processo de comparação de resultados experimentais e numéricos depende de vários fatores, principalmente da similaridade de processos nas duas abordagens. Isto significa que dados numéricos obtidos de um processo de modelagem assumindo modelo zero-dimensional, devem ser comparados com dados experimentais obtidos em condições de mistura perfeita, num reator PSR, o que é difícil de se atingir, pois o próprio processo físico de mistura é limitado em função das características geométricas do reator usado nos experimentos.
A figura 1 apresenta uma configuração experimental de reator, tentando reproduzir escoamento uniforme e homogêneo. A mistura reagente a ser analisada entra no reator pelo duto central e escoa até a pequena esfera a qual tem furos de passagem (saída de mistura) com um diâmetro tal que os gases chegam ao regime de escoamento sônico.
A configuração geométrica deste reator foi desenvolvida para que os gases de teste, em regime sônico preencham o volume do reator num tempo muito curto, diminuindo os possíveis gradientes espaciais de espécies químicas.
Com o passo do tempo e novas tecnologias de fabricação, têm sido propostas e testadas novas conceições geométricas de reatores PSR. A figura 2 mostra um reator de mistura por jatos (JSR) do laboratório de combustão e sistemas reativos, Orleans, França. Neste reator, a mistura dos reagentes é promovida pelos jatos direcionadores no interior do reator.
De forma semelhante ao reator da figura 1, a configuração geométrica deste reator (figura 2) foi desenvolvida para que os gases de teste direcionados pelos jatos contrapostos preencham o volume do reator num tempo muito curto, diminuindo os possíveis gradientes espaciais de espécies químicas.
Proposta e otimização geométrica de um reator JSR
Um reator de mistura por jatos foi desenvolvido no Laboratório de Combustão e Engenharia de Sistemas Térmicos para pesquisa e desenvolvimento na formulação de combustíveis de aviação. Várias propostas geométricas foram feitas e posteriormente foram realizadas análises de escoamento e mistura de reagentes usando dinâmica de fluidos computacional. Uma das primeiras geometrias propostas é mostrada na figura 3.
As figuras 4, 5 e 6 mostram os resultados numéricos de distribuição de espécies químicas (combustível e nitrogênio) e contornos de velocidade obtidos na proposta geométrica do reator JSR da figura 3. As condições de simulação foram as seguintes:
- Pressão de operação: 4 atm
- Mistura: C12H23 + ar (21% O2 + 79% N2)
- Composição: estequiométrica, Φ = 1.0
- Fluxo mássico de mistura (total): 5.09 g/s (iso-cetano, conversão de ~80%) valor obtido no CHEMKIN, PSR a 4 atm, 950K, Φ = 1.0
- Temperatura: 950 K (constante)
- Modelo de turbulência: k-ε (standard)
- Geometria: proposta para teste PSR-G1
- Simulação axialsimetrica
- Frações mássicas esperadas dentro do reator:
- C12H23 ~0.06413
- O2 ~ 0.2181
- N2 ~ 0.7177
É possível observar nas figuras 4, 5 e 6, que não é atingida uma “boa” condição de homogeneidade de espécies químicas, provavelmente pelos baixos valores de velocidade obtidos na zona de estrangulamento na entrada do reator (disco pequeno), gerando pouca turbulência e diminuindo consideravelmente os níveis de mistura no reator, como consequência, existem gradientes espaciais de espécies químicas no reator, afastando-o da condição de mistura perfeita.
A figura 7 mostra outra das propostas geométricas de reator (G5) a qual apresenta uma zona de estrangulamento de escoamento tentando gerar uma zona de premistura, antes dos gases entrarem no reator. O volume desta zona de premistura representa o 5% do volume total do reator, descartando a possibilidade de se ter uma configuração de dois reatores em serie.
As figuras 8, 9 e 10 mostram os resultados numéricos de distribuição de temperatura, espécie química (combustível) e contornos de velocidade obtidos na proposta geométrica do reator JSR da figura 7 (proposta geométrica G5). As condições de simulação são as seguintes:
- Fluxo mássico de mistura (total): 5.09 g/s (iso-cetano, conversão de ~80%) valor obtido no CHEMKIN, PSR a 4 atm, 950K, Φ = 1.0
- Temperatura de entrada – Jato : 300 K
- Temperatura de entrada – cortina: 1100 K
- Modelo de turbulência: k-ε (standard)
- Geometria: proposta para teste G5
- Simulação axialsimetrica
- Frações mássicas esperadas dentro do reator:
- C12H23 ~0.06413
- O2 ~ 0.2181
- N2 ~ 0.7177
É possível observar nas figuras 8, 9 e 10, que não é atingida uma “boa” condição de homogeneidade de temperatura e fração mássica de combustível, no entanto, observa-se também uma melhoria em relação às predições numéricas obtidas para a geometria G1. Observa-se também que existem gradientes espaciais de temperatura. Os valores de velocidade continuam um pouco baixos gerando pouca turbulência e diminuindo consideravelmente os níveis de mistura no reator, como consequência, ainda existem gradientes espaciais de espécies químicas no reator, afastando-o da condição de mistura perfeita.
A figura 11 mostra outra das propostas geométricas de reator (G7) a qual apresenta uma zona de de prémistura e 4 jatos direcionadores de escoamento. O volume desta zona de premistura representa o 5% do volume total do reator, descartando a possibilidade de se ter uma configuração de dois reatores em serie. Os jatos direcionadores distribuem os reagentes em 4 direciones dentro do reator. Dependendo das condições de operação do reator, o escoamento na saída dos jatos atinge regime sônico (Ma ~ 0.7) gerando altos níveis de turbulência dentro do reator, promovendo altos níveis de mistura.
As figuras 12, 13 e 14 mostram os resultados numéricos de distribuição de temperatura, espécie química (combustível) e contornos de velocidade obtidos na proposta geométrica do reator JSR da figura 11 (proposta geométrica G7). As condições de simulação são as seguintes:
- Pressão de operação: 4 atm
- Mistura: C12H23 + ar (21% O2 + 79% N2)
- Composição: estequiométrica, Φ = 1.0
- Fluxo mássico de mistura (total): 1.97 g/s (iso-cetane, conversão de ~85%) valor obtido no CHEMKIN, PSR a 4 atm, 950K, Φ = 1.0
- Temperatura de entrada – Jato : 300 K
- Temperatura de entrada – cortina: 1100 K
- Modelo de turbulência: k-ε (standard)
- Geometria: proposta para teste em CDF, G7
- Simulação em 3D.
- Frações mássicas esperadas dentro do reator:
- C12H23 ~0.06413
- O2 ~ 0.2181
- N2 ~ 0.7177
É possível observar nas figuras 12, 13 e, 14 que é atingida uma condição “boa” de homogeneidade de temperatura e fração mássica de combustível. Os valores de velocidade na saída dos jatos geram altas condições de turbulência dentro do reator, e como resultado a condição de mistura homogênea de reagentes no reator é atingida. É necessário aclarar que ainda continuam existindo gradientes espaciais de temperatura e espécie química no reator, porém, das diferentes configurações geométricas testadas numericamente usando CFD, é a proposta G7 a que apresenta um melhor comportamento em termos de homogeneização térmica e de espécies químicas.